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A base alugada de Dilma

Blog Augusto Nunes

O Brasil não é para amadores, ensinou Tom Jobim. Nem para profissionais da imprensa estrangeira, descobrem em menos de um mês os correspondentes escalados por jornais de outros países para a missão frequentemente impossível: explicar aos leitores o que acontece nestes trêfegos trópicos. É um desafio e tanto, confirma a tarefa que mantém os gringos ocupados neste começo de outono: expor as origens e os motivos da crise que opõe o Executivo à maioria do Legislativo.

Como descrever a gestação do movimento rebelde que agita o Congresso?, querem saber os correspondentes internacionais. Por que tantos governistas vocacionais ensaiam uma colisão frontal com a presidente Dilma Rousseff? O que há de tão diferente entre um Romero Jucá e um Eduardo Braga, ou entre um Cândido Vaccarezza e um Arlindo Chinaglia, para que a troca de líderes no Senado e na Câmara seja promovida a declaração de guerra? Por que o Código Florestal precisa ser votado antes da Lei Geral da Copa? O que tem a ver uma coisa com outra?

Sobretudo, como decifrar o enigma que provocou o cisma entre o País do Carnaval e o País do Futebol? Em fevereiro, como faz todos os anos, o Brasil carnavalesco abandonou o emprego, caiu na farra e atravessou vários dias em estado de embriaguez. Em março, o Brasil da bola resolveu obrigar-se a ficar sóbrio durante a Copa de 2014. Parece coisa de doido ─ e é. Mas mesmo na potência emergente que Lula inventou existe alguma lógica por trás de toda loucura.

Alguém precisa avisar aos jornalistas estrangeiros que, nos últimos  nove anos, a atividade política foi reduzida por Lula e Dilma a uma forma de comércio excepcionalmente lucrativa. Os rebeldes estão insatisfeitos com os ajustes feitos pelo governo nos preços em vigor no balcão de compra e venda de votos, que tornaram desigual o tratamento dispensado aos inscritos no programa que vinha garantindo a unidade da turma: o Verbas, Empregos e Propinas para Todos.

Todos os integrantes da base alugada, naturalmente. Disso sabem até os amadores aqui nascidos. Para quem vê as coisas como as coisas são, o que parece um caso muito complicado é apenas outro caso de polícia. Ou mais um ato do interminável espetáculo da safadeza.

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