Luna: Grupos de extermínio ainda agem em Maceió

Uma das "caras" da Operação Taturana- que descobriu o desvio de R$ 300 milhões da folha de pagamento da Assembleia Legislativa- Luna quer agora reestruturar a Guarda Municipal (com porte de arma) e combate o crescimento do tráfico de drogas em Maceió, a terceira cidade mais violenta do mundo- tudo isso com ínfimos R$ 250 mil para gastar, todos os meses, na pasta
Com um orçamento 51 vezes menor que o da Superintendência de Limpeza Urbana, a Secretaria de Segurança Comunitária e Cidadania tem novo titular: o ex-superintendente municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) e delegado aposentado da Polícia Federal, José Pinto de Luna.
Uma das “caras” da Operação Taturana- que descobriu o desvio de R$ 300 milhões da folha de pagamento da Assembleia Legislativa- Luna quer agora reestruturar a Guarda Municipal (com porte de arma) e combate o crescimento do tráfico de drogas em Maceió, a terceira cidade mais violenta do mundo- tudo isso com ínfimos R$ 250 mil para gastar, todos os meses, na pasta.
Para a missão, ele não deve se candidatar à Câmara de Vereadores da capital. Veja entrevista:
Como é conduzir uma secretaria de Segurança na terceira cidade mais violenta do mundo?
Estamos tentando reestruturar a Guarda Municipal, precisamos trabalhar alguns programas sociais, só que o orçamento é curto, é diferente da outra pasta (SMTT) que eu conduzia. O município tem uma parcela na segurança pública, mas ela é pequena. No artigo 144, da Constituição Federal, no capítulo sobre segurança pública, fala quem são os órgãos de segurança e a Guarda Municipal não está inserida nestes órgãos de segurança. Eu acredito que a Guarda deve se inserir no capítulo 144 da Constituição.
Por que?
Porque tudo acontece na esfera municipal. Mas, a Guarda Municipal não pode usar arma, em cidades pequenas o guarda não pode ter uma posição mais enérgica.
Qual a estratégia, então?
Regulamentar a Guarda Municipal no que diz respeito ao porte de arma. O processo em Maceió está lento por conta das diretrizes do Governo Federal, a gente está tentando quebrar essa barreira para trazer a uma cidade violenta como Maceió uma Guarda Municipal armada, mas consciente. Não adianta armar qualquer um e no contexto de defender o prédio público, cometer arbitrariedades. Vemos isso em municípios e essa não é a nossa intenção. Jamais é transformar a Guarda Municipal como braço armado do poder municipal. Jamais.
Qual a estrutura da sua secretaria?
Temos 800 guardas, há um projeto para reestruturação no que diz respeito a carreira única ou não porque o guarda jamais chega a inspetor ou sub-inspetor porque são concursos diferentes Temos que saber se isso é viável ou não no contexto de Maceió. Há alguns desafios que a gente tem de ouvir todo mundo, saber onde queremos chegar. Nós não temos projeto específico para isso. O tempo é curto.
O Governo do Estado sustenta que 90% dos homicídios em Alagoas tem como pano de fundo o tráfico de drogas. Concorda com isso?
Aqui em Maceió eu não concordo. Em outros estados eu concordo, como os do Sudeste. Mas, aqui está arraigado a violência gratuita.
O que é violência gratuita?
Contra a mulher, por exemplo. Aqui ainda se mata por crime passional. Crimes contra homossexuais que até hoje não foram esclarecidos e fica por isso mesmo. Eu acredito que o tráfico tenha influência muito grande, mas não nessa proporção, como em outros estados do Nordeste. Mas, ainda impera aqui o crime de mando. Acredito que essa proporçao seja entre 60%, 70%, os homicídios por tráfico. Aqui ainda impera a cultura da pisa, na tabica ou tapa na cara.
Grupos de extermínio comandados por militares na periferia. Tem conhecimento sobre isso?
Temos e isso não é só aqui. Venho de uma missão especial no Espírito Santo. Naquele tempo, o policial militar era convidado a fazer roubo a carro forte, ele dizia “Não sou ladrão, não sou bandido”. Mas, quando convidava ele para matar dois ou três bandidos, ele estava dentro.

Aqui ainda impera a cultura da pisa, na tabica ou tapa na cara.

Qual a diferença entre os grupos de extermínio no Espírito Santo e os de Maceió?
O Espírito Santo era o berço da Le Cocq [Esquadrão da Morte Capixaba Scuderie Detetive Le Cocq, fundada em 24 de outubro de 1984, pautada para “aperfeiçoar a moral e servir à coletividade”. A Le Cocq é acusada de 30 assassinatos políticos cometidos em 18 anos e quase 1.500 homicídios anuais que transformaram o Espírito Santo no segundo estado mais violento do Brasil. Foi extinta em 2006].
Ali nasceu este esquadrão, era uma cultura não muito diferente. Não vamos citar nomes. No Acre, tinha um deputado da moto-serra, era um coronel; no Espírito Santo tinha um coronel que cortava os braços e jogava no lixão, um deputado, um Tribunal de Contas conivente. Em Alagoas, só muda os nomes. No Amazonas era um coronel da PM, que era deputado.
A Assembleia é a “mãe” do crime em Alagoas?
Não posso dizer isso, mas que há deputados arraigados em seus feudos, isso sim. Todo mundo sabe. Se falar o nome de uma região, lembra de uma pessoa que certamente é um político.
Temos um vereador, na Câmara, que a Justiça já denunciou por participar de um grupo de extermínio. Esses grupos estão extinguindo ou eles permanecem em funcionamento?
A Polícia Federal suspendeu um pouco as operações por contingência financeira, mas o Gecoc, do Ministério Público Estadual levam adiante. Isso retrai o crime organizado. Os grupos de extermínio existem, mas em menos escala e menos escrachado porque muitos deles foram presos. Os cabeças foram presos e tomaram alguma reprimenda, mas precisa ser extirpado.
Qual a região que mais preocupa a secretaria?
A parte alta, mas o Vergel preocupa. É a parte plana da cidade. Muitas coisas vem pela lagoa. Drogas, armas. Temos um aeroporto aqui que, na minha gestão na Polícia Federal, incentivamos uma fiscalização mais ferrenha e pegamos várias coisas. Pegamos uma pessoa com uma grande quantidade de dinheiro e descobrimos que ela estava sequestrando um pessoal; em Paulo Afonso, estava fugindo um pessoal do Rio de Janeiro. O aeroporto internacional merece uma fiscalização especial, porque tem voo charter. A bandidagem ainda não descobriu este viés. Temos sorte.
O senhor é candidato este ano?
Estou em dúvida, que tem de acabar até terça-feira. É mais para não sair, apesar do meu grupo, amigos, pedirem para eu ser candidato. Não tenho estrutura financeira. O partido não vai me ajudar em nada, tenho esse desafio com a guarda. E tenho ainda a possibilidade de assumir como segundo suplente de deputado federal.
E a Assembleia Legislativa? Pensa nela?
Seria um pesadelo (risos). Mas, tenho curiosidade para concorrer. Quem sabe “apimentar” a disputa.

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