São apenas crianças…

Plácido Fernandes Vieira- Correio Braziliense

Mais ou menos quatro anos e meio atrás, estávamos eu e minha mulher parados no sinal vermelho na W3 Sul. Íamos no sentido norte. Ocupávamos a pista do meio, próximo à quadra do Bar Brasília. Dos lados, não havia ninguém. De repente, uma pancada forte na traseira do nosso carro. Fiquei preocupado com a minha mulher, grávida, no banco ao lado, mesmo ela tendo me dito que, apesar do susto, se sentia bem.

Imediatamente, liguei para um amigo que estava havia pouco com a gente e também seguia de carro para casa. Ele voltou correndo e a levou para o hospital enquanto eu explicava o acontecido para policiais militares que passavam por ali naquele momento. Eles conversaram com os ocupantes do veículo que bateu no nosso e depois nos contaram que eram cinco menores e pareciam estar todos bêbados.

Fomos todos para a delegacia mais próxima. Depois de duas horas de espera, fui dispensado. Como a garota — cujos pais estariam viajando — tinha menos de 18 anos, o caso seria enviado a um juizado de menores e correria em segredo de Justiça. A polícia não poderia me fornecer nem sequer um boletim de ocorrência para que cobrasse o conserto do carro ao seguro. Era como se um ET tivesse baixado do nada e sumido depois do acidente. Eu que me lascasse com os prejuízos. Graças a Deus, nada aconteceu de mal à minha mulher e à nossa filhinha ainda na barriga dela.

Este texto é a respeito da maioridade penal. Nesta sexta-feira, se um menor, a um dia de completar 18 anos, decidir festejar o último dia de impunidade matando 50 pessoas que se divertem num happy hour, os jornais não poderão sequer mencionar o nome dele. No máximo, será recolhido a um Caje da vida por três anos. Depois estará livre e com a ficha mais limpa do que muitos políticos brasileiros, para continuar a fazer o que der na telha.

Nos EUA e no Reino Unido, “dois países atrasados”, certamente a “criancinha” que perpetrou a chacina seria julgada e passaria o resto da vida vendo o sol nascer quadrado. No Brasil, não. Como somos uma nação “avançada”, ela seria tratada como a vítíma. Como sempre, veríamos políticos “progreçistas” dizendo que os culpados seriam os burgueses opressores, reacionários, que acabaram mortos por uma fatalidade. Afinal, cometiam o crime de tomar uma cerveja depois de uma semana inteira ralando para sustentar a família. Temo que isso continue assim até o dia em que, por azar, a vítima no caminho de um desses “Champinhas da vida” seja um dos iluminados que hoje os defende.

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