Começa disputa por cargo de Roberto Gurgel

A mais intensa campanha já realizada para o cargo de procurador-geral da República vai entrar em sua fase decisiva na semana que vem, quando será realizado o primeiro de cinco debates entre os quatro candidatos à sucessão do atual chefe do Ministério Público Federal (MPF), Roberto Gurgel. A votação da lista tríplice, que será enviada à presidente Dilma Rousseff, se realizará em 17 de abril, mas os concorrentes já lançaram mão de estratégias de comunicação e do corpo a corpo para conquistar os votos dos cerca de 1,3 mil filiados à Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).

Os quatro concorrentes — Deborah Duprat, Ela Wiecko, Rodrigo Janot e Sandra Cureau —criaram sites e têm usado a rede interna de comunicação entre membros da carreira para difundirem propostas. O debate marcado para a próxima terça-feira, em Brasília, vai dar o termômetro inicial da disputa — outros quatro serão realizados. Entre os nomes na disputa, somente um ficará de fora da lista. No entanto, a luta de cada um é para ser o primeiro, pois nas cinco últimas votações o mais bem colocado foi o escolhido do chefe do Poder Executivo para comandar a Procuradoria Geral da República (PGR).

Apontado por colegas como o responsável por profissionalizar a campanha para a sucessão de Gurgel, Rodrigo Janot admitiu ter entrado “de cabeça” na corrida para vencer a eleição e defendeu que todos tratem a votação da ANPR como a disputa de fato pelo cargo de procurador-geral. “Ou a gente acredita nessa lista ou chuta essa lista para o lixo. Eu acredito nessa lista, caí de cabeça na campanha,” disse Janot ao Correio.

Rodrigo Janot contratou uma empresa para conduzir suas estratégias de campanha. Tirou licença-prêmio de um mês e tem viajado para pedir voto. Janot disse que conta com a colaboração de amigos que cede milhagens de companhias aéreas e que tira do próprio bolso as despesas de hospedagem e assessoria. Antigo aliado de Gurgel, ele adota discurso de oposição desde o começo da campanha, criticando o “estilo centralizador” do atual procurador-geral.

Vídeo
Ao contrário de Janot, as três candidatas mulheres não pediram licença. A vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, gravou um vídeo de quase nove minutos, no qual aborda assuntos de interesse da carreira. “Uma das razões desse vídeo é a impossibilidade de eu estar nas várias unidades conversando pessoalmente com os colegas e me submetendo aos debates. Tenho uma agenda extensíssima e um volume enorme de trabalho por conta do meu cargo”, destaca na abertura do vídeo. Em um trecho, ela promete que, se escolhida para o cargo, não vai centralizar o poder.

Os candidatos também apresentaram programas de gestão. Na página principal de seu site, a vice-procuradora-geral Eleitoral, Sandra Cureau, divulga ponto a ponto o “Programa para a Procuradoria Geral da República” e promete mudanças. Em um texto denominado de “carta aos colegas”, Sandra garante que vai trabalhar por melhorias para os procuradores. “Tenham a mais absoluta certeza de que, como sempre fiz, trabalharei incansavelmente pelo aprimoramento da nossa instituição, especialmente neste importante momento que vivemos, quando nossas prerrogativas institucionais estão em risco, nossa remuneração está francamente defasada, e tantos outros problemas nos afligem.”

Já a ouvidora-geral do MPF, Ela Wiecko, criou até um slogan de campanha, usando a hashtag #elavocênós. Também divulgou três vídeos e publicou uma lista de sete compromissos, como a ampliação da interlocução direta com o Executivo, o Judiciário e o Legislativo. “Nestes últimos dias, percebi que preciso entrar nessa briga para defender nosso estatuto constitucional e legal, bem como para assegurar remuneração condigna com nossas responsabilidades”, destaca Ela Wiecko, no texto no qual se apresenta como candidata.

Quatro por três

Confira quem são os quatro concorrentes que querem estar na lista tríplice para a sucessão de Roberto Gurgel:

Deborah Duprat
Atual vice-procuradora-geral da República, Deborah ficou conhecida por lutar pela causa indígena. Com frequência, ocupa a cadeira do Ministério Público nas sessões do Supremo Tribunal Federal (STF), na posição de substituta imediata de Roberto Gurgel. Ingressou no MPF em 1987.

Ela Wiecko
Ex-presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, a subprocuradora-geral da República atua na área de direitos humanos, foi corregedora-geral do MPF e, atualmente, é ouvidora-geral do órgão. Ingressou no MPF em 1973 e estava entre os escolhidos da última lista tríplice, em 2011. Ficou na terceira posição, com 261 votos.

Rodrigo Janot
Ex-diretor-geral da Escola Superior do Ministério Público da União, o subprocurador-geral da República já foi aliado de Roberto Gurgel, mas hoje adota um discurso de oposição. Desde 1984 no MPF, foi o segundo mais votado da última lista tríplice, com 347 votos, ficando atrás apenas de Gurgel, que conquistou 454.

Sandra Cureau
Desde 1976 na carreira, exerce atualmente o cargo de vice-procuradora-geral Eleitoral. Ela atua na preparação de pareceres da Procuradoria-Geral Eleitoral junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e já exerceu cargos estratégicos no MPF, como de diretora-geral da Escola Superior do Ministério Público da União.

As informações são do Correio Braziliense

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