Calouros que participam de trotes são de ‘regiões culturalmente atrasadas’

Uma declaração infeliz endereçada a um grupo de e-mails gerou uma polêmica envolvendo o diretor da Escola Politécnica da UFRJ, Ericksson Rocha e Almendra, e dezenas de alunos da instituição, que reúne 12 departamentos de engenharia. Na noite da última segunda-feira (25), Almendra enviou um e-mail aos alunos veteranos alertando sobre a proibição do trote na universidade, que vai receber 615 calouros na próxima segunda-feira (01).

A intenção era boa, mas ao explicitar sua posição, Almendra escreveu que “acabamos de ver alunos de um determinado Estado chegarem à matrícula com os cabelos raspados. Em geral, uma parte de tais alunos querem, desejam, ‘levar trote’, uma mostra de quão atrasadas culturalmente são suas regiões”.

Imediatamente após a mensagem, dezenas de alunos debateram as declarações de Almendra, sendo que a maioria protestou contra sua referência a “regiões culturalmente atrasadas”. Houve troca de farpas inclusive entre universitários nascidos no Rio e os que vieram de outros estados do país. Logo depois, o professor voltou atrás, desculpando-se, mas isso não deu fim à polêmica.

“Um fato que não agrada aos cariocas é: estão chegando muitos ‘estrangeiros’ do Brasil na UFRJ. Muitos nos veem como ladrões de vagas, mas não podemos fazer nada se é mais fácil passar na UFRJ do que na UFMG e na USP. Já me senti mal recebida inúmeras vezes, e ofendida, como fui agora”, diz uma estudante mineira no grupo de e-mail.

Forçado a se explicar, Almendra enviou novo e-mail aos alunos, onde explicou que o trote em si é sinônimo de cultura atrasada, e que não queria dizer que haveria regiões de atraso cultural. E deu exemplos de outras situações que, para ele, são semelhantes:

“Touradas são um atraso cultural da Espanha; lançamento de anões é uma barbaridade Australiana; escorpiões são uma aberração gastronômica da China; farra do boi é um vexame catarinense; trotes são um atraso cultural de muitos Estados do Brasil”, diz o e-mail.

Para o universitário e representante dos alunos do Departamento de Engenharia Elétrica, Nícolas Abreu Netto, as palavras do diretor foram “desnecessárias”, já que o e-mail tinha apenas o objetivo de alertar sobre a proibição do trote.

– O email tinha um aviso claro: o trote é proibido na UFRJ. Para defender essa proibição ele fez uso daquele infeliz parágrafo, e de algumas matérias dizendo que trote não é tradição. Como eu não sou calouro, não me senti diretamente afetado pelo comentário, mas poderia – conta o aluno, que veio ao Rio para estudar na UFRJ.

Em entrevista ao GLOBO, Almendra disse que está satisfeito por ter estimulado debates sobre o trote, mas confessa que errou ao usar a expressão “regiões culturalmente atrasadas”.

— Foi uma bobagem da minha parte, me expressei mal. São casos específicos e não a região como um todo — explicou o diretor da Escola Politécnica da UFRJ.

De acordo com Almendra, em cinco anos, 25 alunos foram punidos por terem participado ativamente ou passivamente do trote. O diretor lembrou ainda que desde que assumiu a diretoria da instituição, há sete anos, ele vem aplicando uma política de “trote zero” da universidade.

— Nem trote solidário — garante Almendra.

As informações são do O Globo

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