O assassinato brutal do professor Paulo Bandeira é, sim, um divisor de águas em Alagoas.
Graças a ele, descobriu-se que os conselheiros do Tribunal de Contas de Alagoas aprovam e desprovam contas usando um critério político e não técnico. As fraudes na Educação- reveladas pelo professor- eram tão distantes do universo do TC que os conselheiros aprovaram as contas do prefeito de Satuba, Adalberon de Moraes, quando todos na cidade sabiam- pela voz de Bandeira- que os desvios na Educação aconteciam a qualquer hora do dia.
Quanto custou a aprovação das contas de Adalberon no Tribunal de Contas? Ou: o quê custou?
Nunca vamos saber. E a Corte de Contas em Alagoas é um orgão desmoralizado. A Operação Rodoleiro mostrou que o TC desvia mais da metade do seu orçamento para o bolso dos conselheiros ou funcionários graúdos. E nenhum destes funcionários demitidos pelo tribunal. Uma confissão pública de corrupção.
Paulo Bandeira ajudou a Policia Federal a mudar os rumos das investigações a prefeitos em Alagoas. Graças ao professor, em 2005, a Operação Gabiru mostrou que gestores públicos fraudavam licitações para a merenda escolar. E após a Gabiru, vieram mais nove operações, algumas específicas na área da Educação. Só o ex-prefeito de Traipu, Marcos Santos, foi preso cinco vezes.
Paulo Bandeira não ajudou a mudar os rumos políticos de Satuba, onde Adalberon mantem certa influência- cada vez menor, diga-se.
Mas, ele entrou para a história como um líder pacifista e humano, pondo a nu as instituições públicas de Alagoas mesmo após a sua morte.
Afinal, mesmo ele deixando gravado depoimentos e cartas com fartas provas contra Adalberon- como se previsse o próprio holocausto- a Justiça demorou dez anos para julgar, em primeira instância, os seus assassinos.
Paulo Bandeira é sinônimo de justiça social. O ex-prefeito Adalberon é um modelo decadente- ainda resistente, é verdade- entre gestores públicos transformando a Prefeitura em extensão do baronato feudal.
A história esgota este modelo.O de Paulo Bandeira sobreviverá.