Papa Francisco escolhe anel de prata como símbolo de simplicidade

O Papa Francisco escolheu um anel de pescador de prata, folheado de dourado, no lugar de ouro, como era o de Bento XVI. E também fez uma série de modificações para simplificar a cerimônia, como o canto do Evangelho apenas em grego, eliminando o latim.

O modelo, que traz a imagem de São Pedro com as chaves da Igreja, foi feito pelo escultor Enrico Manfrini, falecido em 2004. Foram apresentados três modelos a Francisco, e ele acabou optando pelo que o escultor, morto aos 87 anos, apresentara originalmente ao então secretário de Paulo VI. Manfrini era conhecido como “o escultor dos Papas”.

Lombardi alertou os jornalistas para ficarem atentos aos improvisos da homilia do Papa, que vai ser feita em italiano. É outro contraste com seu antecessor, Bento XVI, que costumava seguir o ritual à risca.

– Como vocês viram, o Papa ama uma certa espotaneidade. Pode ser que ele acrescente. Convido vocês a terem alguém que também fale italiano para ajudar a entender, caso ele acrescente partes espontâneas.

A segurança também vai estar preparada para os improvisos do Papa quando ele percorrer a praça no papamóvel ou num jipe (ainda não está decidido).

– Isso é novo. Mas a segurança é competente e vai se adaptar – assegurou o porta-voz.

Lombardi disse que é provavel que o Papa Francisco vá ao Brasil. Mas não quis confirmar:

– Vamos esperar que o Papa anuncie ele mesmo.

A missa inaugural começa nesta terça-feira às 8h50m (4h50m no Brasil). Ele sairá da Casa de Santa Marta, onde ainda está hospedado, para percorrer a Praça de São Pedro. Na sacristia, perto da famosa escultura de Michelangelo La Pietà, começará a se preparar para a celebração.

A cerimônia comecará às 9h30m no altar sob o qual está o túmulo do apóstolo Pedro, onde Francisco, acompanhado de dez líderes das Igrejas católicas orientais e ocidentais, vai rezar. Nesse momento será entoado o canto “Laudis Regiae”, que invoca muitos Papas canonizados da história da Igreja. Lá estarão o anel, o palio (uma encharpe de lã, representando o bom pastor, com cinco cruzes vermelhas) e o Evangelho.

Depois de rezar, o Papa sairá da Basílica em procissão em direção à praça, onde receberá anel do pescador – símbolo de Pedro e do Pontificado – o Pálio e o Evangelho. No anel estarão gravadas a imagem de São Pedro com as chaves.

À esquerda, na frente da basílica, estarão sentados 250 arcebispos e bispos e delegações de outras Igrejas cristãs. À direta, chefes de Estado e de governo de vários paises. Diante da estátua de São Pedro, estarão delegações de outras religiões (judeus, muçulmanos) e cerca de 1.200 sacertodes e seminaristas.

Delegações de mais de cem países estão confirmadas. Para evitar polêmica sobre a presença ou não de líderes controversos, como ditadores, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, frisou que a Santa Sé apenas comunicou ao mundo a data e hora da cerimônia: não convidou expressamente nenhum líder.

– (As delegações) que querem vir, são bem-vindas. Não há privilegiados, nem recusados.

Ritual simplificado

Todos os cardeais presentes em Roma, cerca de 180, incluindo os não eleitores do conclave, vão celebrar a missa com o novo Papa. Depois da entrega do pálio e do anel, o último ato do ritual será a promessa de obediência dos cardeais ao novo Papa. Francisco também simplificou esta parte da cerimônia: reduziu de 12 para 6 o número de cardeais que vão fazer a promessa, em nome de todos os outros.

Outros dois gestos de simplicidade amanhã: não haverá procissão de oferendas e o Papa não vai dar a comunhão pessoalmente. Por toda a praça, haverá 500 sacerdotes prestando a comunhão. Também por escolha pessoal do Papa, o coro da Capela Sistina e do Instituto de Música Sacra vão cantar uma composição muito rara, chamada “Você é o pastor das ovelhas”. A cerimônia se encerra por volta das 11h30m com o canto gregoriano “Te Deum”.

O Papa Francisco decidiu manter seu brasão, escolhido na sua consagração episcopal, também marcado pela simplicidade : um escudo azul que ganhou os símbolos pontifícios (mitra posicionada entre chaves de ouro e prata entrecruzadas, unidas por um cordão vermelho). No alto, está o emblema da ordem de origem do Papa, a Companhia de Jesus: um sol radiante e flamejante carregado com as letras, em vermelho, IHS, monograma de Cristo. A letra H é coberta por uma cruz em ponta e três pregos em preto.

Abaixo, encontram-se a estrela e a flor de nardo (semelhante ao cacho de uva), que já constavam no brasão do cardeal Bergoglio. A estrela, de acordo com a antiga tradição aráldica, simboliza a Virgem Maria, mãe de Cristo; enquanto a flor de nardo indica São José, patrono da Igreja. Na tradição da iconografia hispânica, São José é representado com um ramo de nardo nas mãos. Colocando no seu escudo tais imagens, o Papa pretendeu exprimir a própria devoção à Virgem Santíssima e São José.

Em memória ao evento que marcou o início de sua consagração total a Deus, Bergoglio escolheu o lema e o modo de vida “Miserando atque eligeno”. A frase, escrita em latim do Evangelho de Mateus, descreve a atitude de Jesus com um pecador, a quem olhou com sentimentos de amor e escolheu-o, de acordo com informações do site do Vaticano.

O lema é uma homenagem à misericórdia de Deus e é reproduzido na Liturgia das Horas da festa de São Mateus. Ele tem um significado especial na vida e na trajetória espiritual do Papa. Segundo o Vaticano, foi em uma festa de São Mateus, em 1953, que Bergoglio experimentou, aos 17 anos, a presença de Deus em sua vida.

Logo depois, o Papa receberá, dentro da Basílica, os chefes de Estado e de governo. Na quarta-feira, às 11h, ele vai se encontrar com líderes religiosos. São 33 delegações de várias igrejas e confissões, como muçulmana e budista. Só da delegação hebraica, virão 16.

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