O berço dos tiranos

Plácido Fernandes Vieira- Correio Braziliense
A ganância, o lucro a qualquer custo, a especulação financeira, os juros escorchantes, a exploração sem limites do homem pelo homem e a corrupção fomentam as injustiças sociais mundo afora. É inaceitável que chamemos de civilizado o planeta em que vivemos, cercado de miséria, favelas e ignorância por todos os lados. Não é e não será civilizado enquanto formos coniventes com tamanha iniquidade.

Em pleno século 21, é inconcebível que ainda seja considerada normal a existência de um único cidadão brasileiro, venezuelano, africano, americano, europeu — seja de onde for — sem acesso à alimentação, à moradia, à educação, à saúde… Enfim, sem condições de viver com dignidade. Mas, para vergonha geral da humanidade, a miséria viceja por todos os lados.

É preciso indignar-se, dar um basta a essa situação. O mundo precisa de mais justiça social e menos mesquinhez. A ode ao deus-mercado, ao espírito de porco da insana acumulação de capital por uns poucos, está empurrando o mundo para o precipício. Enquanto prevalecer entre a maioria essa atitude passiva diante dessa realidade estúpida, perversa, insana, cruel, a democracia seguirá desmoralizada e correndo o risco de ser sabotada pela demagogia populista de “pais” e “mães” do povo.

Não basta estar na Constituição que nascemos iguais e somos todos iguais perante a lei. A miséria ao nosso redor desmonta essa mentira. Na Venezuela, a distribuição de renda e de políticas sociais em favor dos mais pobres explica a comoção do povo nas ruas após a morte de Chávez. No Brasil, o ato de repartir o bolo, sobretudo pela política de aumento real do salário mínimo, não quebrou o país como a velha elite propagandeava. Muito pelo contrário. Nunca antes, como bem disse Lula, os mais ricos ganharam tanto dinheiro.

Por que, então, a elite financeira mundial não consegue perceber que um mundo sem miséria seria muito melhor para todos? Não tenho a resposta. Mas sei que a ganância dos ricos — com a cumplicidade de políticos que se alimentam da ignorância alheia — é a principal responsável pelo surgimento de caudilhos e tiranos que vivem a ameaçar as democracias com suas tentações totalitárias.

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