Desaparecimento de Bárbara Regina: seis meses e polícia sem pistas

Números do mais novo Mapa da Violência mostram que Alagoas lidera o número de assassinatos no País cometidos por armas de fogo. É o Estado que também mata mais negros e o segundo em homicídios contra as mulheres. Com o maior Instituto Médico Legal (IML) funcionando no improviso, delegacias caindo aos pedaços e um plano de segurança federal com pequena redução no avanço dos crimes, os alagoanos recorrem ao desespero. Alguns deles é quem investigam homicídios.

A aposentada Tereza de Jesus Araújo espera, há seis meses, notícias da neta, a estudante de Ciências Contábeis Bárbara Regina, de 21 anos. Ela sumiu de uma boate ao lado de um homem, que, para a polícia, é Otávio Cardoso da Silva, o assassino da estudante.

Para a Polícia Civil de Alagoas, Bárbara foi estuprada e assassinada com requintes de crueldade. Mas, nem o corpo da estudante nem o acusado pelo crime apareceram:

– Todas as informações que a polícia têm e todas as pistas, incluindo a rota de fuga do Otávio, fomos nós quem apresentamos. E não temos nada depois disso. Como é que se tem um crime sem mandante? Para mim, o Otávio matou, mas um ex-namorado da Bárbara foi quem planejou, disse.

– Sabemos que ela foi assassinada porque quem diz é o coração. Não há notícias, não há nada. O quê queremos é o corpo, diz a aposentada.

Sem ação da Polícia Civil, ela mesma chegou a ir a uma casa onde Otávio estaria escondido:

– Para mim esse rapaz fugiu ou está morto. Ele é envolvido com outros crimes. O ex-namorado nem foi incluído nas investigações.

Bárbara faz parte de uma estatística cada vez mais comum e macabra. Segundo o mais novo Mapa da Violência, Alagoas teve 55,3 homicídios, por 100 mil habitantes, em 2010, por arma de fogo. O Estado também teve um aumento de 215,2%- o terceiro maior do Brasil- entre 2000 e 2010, em crimes desta natureza.

O dono de uma danceteria no bairro de Chã da Jaqueira, Valter Freitas de Oliveira, foi assassinado a tiros na manhã desta terça-feira (6). Ele fazia reparos na danceteria. Segundo parentes, o crime pode ter sido cometido por traficantes: ele lutou para que as drogas não destruíssem a vida dos três filhos, que foram assassinados, até o pai ser eliminado.

Números da Comissão de Direitos Humanos da OAB de Alagoas apontam que, em três anos, 464 mulheres foram assassinadas, a maioria por armas de fogo. Segundo a comissão, a cidade que mais mata mulheres é Maceió. E o bairro com mais chances delas morrerem com um tiro é o Bebedouro, periferia da capital.

– O quê eu percebo é que existe uma questão cultural nestes crimes. O alagoano não resolve suas ações por meios legais, mas à bala, disse o presidente da comissão, Daniel Pereira.

– O combate à violência não vem apenas do Governo, mas da sociedade. E o alagoano precisa mudar:tem de aceitar a mediação, afirma Pereira, ao explicar o crescimento das mortes em 10 anos.

Uma das estudiosas do tema “violência”, a cientista social Ana Cláudia Laurindo diz que o empenho no combate ao avanço do crime depende, também, das elites de Alagoas:

– Não somos uma sub-raça nem temos uma “genética do crime” em nossas veias. O que temos é falta de vontade política. Sem vontade não existe ação, compromisso. Os usineiros de Alagoas escolheram apenas eles mesmos. Como a pobreza está se matando e o crime não chega a eles, porque se preocupar?

Desde junho, o Governo Federal aposta todas as fichas na redução dos assassinatos em Alagoas. Lançou o plano Brasil Mais Seguro. Mas, nem todas as delegacias de Alagoas funcionam porque a quantidade de presos é tão grande que os policiais viraram carcereiros: deixam de ir às ruas para vigiar criminosos.

O maior Instituto Médico Legal de Alagoas, o Estácio de Lima, que funciona em Maceió, permanece aberto no improviso: o prédio é condenado pela vigilância sanitária. O Governo promete um novo IML até março do ano que vem.

De acordo com a secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Miki, nos oito meses do programa, as mortes violentas caíram 11,88%. 186 vidas foram poupadas desde a implantação do Brasil Mais Seguro. Em Maceió, a redução foi de 23,03%:

– O propósito do programa Brasil Mais Seguro é poupar vidas e hoje voltamos a registrar uma curva descendente do índice de mortes, disse Miki.

Procurada, a Secretaria de Defesa Social de Alagoas disse que só comenta os dados do Mapa da Violência quando tiver acesso ao relatório.

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