Câmara inicia caça às bruxas contra era Cícero Almeida

Dois meses antes do final do mandato, o prefeito Cícero Almeida (PEN) enfrenta um inferno na Câmara de Vereadores de Maceió. Capitaneados pelo novo vice-prefeito e ainda vereador, Marcelo Palmeira (PP), há ameaças de investigações no Ministério Público Estadual, informações sobre desvio de finalidade de verbas públicas além de muitos ataques a era Almeida.

Não há cautela nas palavras. Na última terça-feira (30), Silvânia Barbosa (PPS) acusou o prefeito de desviar verbas da saúde para cobrir os gastos do Instituto de Previdência, o Iprev. Ela é oposição a Cícero Almeida e sobrevivente de todas as estratégias usadas pela artilharia do prefeito em fim de carreira para perder a eleição na periferia de Maceió.

“É acreditar na impunidade”, disse Barbosa.

O tom das palavras indicava que Silvânia Barbosa sabia muito mais. E a estratégia era pensada para que os discursos esborrassem do Legislativo Municipal- enviando recados a Cícero Almeida. O presidente da Câmara e aliado de Almeida, Galba Novaes (PRB), autorizou a assessoria de imprensa da Casa de Mário Guimarães a soltar “uma nota” com as palavras da vereadora do PPS.

E Marcelo Palmeira fez questão de provocar: anunciou uma sobra de R$ 10 milhões, em recursos na Superintendência Municipal de Energia e Iluminação Pública (Sima). Falava em “notícias” sobre os desvios.

Só que Marcelo Palmeira é abastecido com informações da equipe de transição nomeada pelo novo prefeito, Rui Palmeira (PSDB). Os números não são definitivos. E os sustos a cada calhamaço de papeis estudado, revisado e posto de lado assombra até os mais céticos.

Na Câmara, o novo vice tentava minimizar as declarações.

“Não quero acreditar que este dinheiro será gasto desnecessariamente. Pedimos ao Ministério Público para que estes recursos sejam usados para o bem-estar da sociedade”, disse.

Em 9 de outubro- dias após o resultado das urnas- Marcelo Palmeira usou a tribuna da Casa. E disse- para quem quisesse ouvir- que nunca havia se submetido “aos caprichos” de Cicero Almeida. Claro, era uma provocação. Marcelo Palmeira é enteado do senador Benedito de Lira (PP), um homem magoado pelo estilo camaleônico de fazer política de Cícero Almeida.

Enrolado nas investigações da máfia do lixo (com desvios de R$ 200 milhões) e indiciado na Operação Taturana (fraude de R$ 300 milhões na Assembleia Legislativa), Almeida mantem silêncio estranho em meio às quatro paredes de seu gabinete, no bairro de Jaraguá.

Enquanto isso, na Câmara, Marcelo Palmeira constroi uma maioria ao futuro prefeito Rui Palmeira que pode causar barulho ao ex-líder populista que sonhou com o Governo de Alagoas.

R$ 80 milhões a mais em caixa

Pelo menos no papel, Cícero Almeida promete deixar uma Prefeitura mais endinheirada a Rui Palmeira.

Para o Orçamento de 2013, a receita é de R$ 1,7 bilhão- exatos R$ 1.797.664.845. Em 2012, esta receita era um pouco menor: R$ 1.718.445.216.

Serão mais R$ 80 milhões (exatos R$ 79.219.629) em caixa. O valor do orçamento inclui o rombo de R$ 200 milhões, que Cícero Almeida avisou, previamente, a Rui Palmeira, a ser deixado pela atual gestão.

Com uma receita mais magra, a Câmara de Vereadores não terá reajuste de seu duodécimo. Receberá R$ 50,2 milhões (exatos R$ 50.203.825), como em 2012.

A Secretaria de Comunicação também não sofrerá alterações em seus gastos- conforme comparação entre o orçamento deste ano e o de 2013: R$ 21,7 milhões (exatos R$ 21.765.750).

Áreas essenciais (e que exigem contrapartidas das verbas da União) tiveram leves reajustes.

A Secretaria de Saúde teve, em 2012, R$ 441,6 milhões (exatos R$ 441.684.649). Foi a área mais atacada durante a campanha eleitoral pela forma como a era Almeida gere estes recursos. Em 2013, o orçamento para ela será de R$ 472,9 milhões (exatos R$ 472.971.974). Aumento de R$ 31,2 milhões (R$ 31.287.325).

Outro mote da campanha eleitoral, esta secretaria foi rateada por Cícero Almeida entre alguns vereadores da bancada- agravando o caótico caos na pasta.

Já a Secretaria de Educação teve, em 2012, quase R$ 300 milhões (exatos R$ 299.143.821). No próximo ano, R$ 314,7 milhões (R$ 314.721.310). Mais R$ 15,5 milhões (R$ 15.577.489).

Na Secretaria de Assistência Social, em 2012, R$ 34,6 milhões (R$ 34.634.534); em 2013, Rui Palmeira terá, nesta pasta, R$ 40,9 milhões (R$ 40.910.957). Pouco mais de R$ 6,2 milhões (R$ 6.276.423).

Uma das pastas mais polêmicas é a Superintendência de Limpeza Urbana, a Slum. Em 2012, ela vai gastar- segundo as previsões da própria Prefeitura- R$ 155,2 milhões (exatos R$ 155.298.260). É nesta pasta onde estão os contratos investigados pelo Ministério Público Estadual- e com indícios de irregularidades- com as empresas de lixo.

Em 2013, Cícero Almeida projetou R$ 163,4 milhões (R$ 163.405.320). Quase R$ 10 milhões a mais (R$ 8.107.060) ao futuro prefeito Rui Palmeira.

O valor é menos escandaloso que o do orçamento de 2011, quando Almeida injetou R$ 40 milhões a mais, para ajudar a continuar o esquema da máfia do lixo, 19 vezes a mais que os gastos na Secretaria de Assistência Social

A Superintendência de Iluminação Urbana (Sima) teve, em 2012, R$ 24,6 milhões (R$ 24.624.404). Em 2013, R$ 25,9 milhões (R$ 25.945.600). Aumento de R$ 1,3 milhão (R$ 1.321.196).

Com promessa de implantar um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), ligando as partes alta e baixa da capital alagoana, Rui Palmeira terá orçamento menor na Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT)- outro gargalo na futura administração.

Em 2012, R$ 25,2 milhões (R$ 25.215.505); em 2013, corte de R$ 40.305. Fecha em R$ 25,1 milhões (R$ 25.175.200).

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