Existe um quê de novelesco na cúpula da Polícia Civil de Alagoas.
Embalada pelo ranking que oferece este lugar como uma das terras mais violentas do mundo- terras sem guerra, destaque-se- a PC transforma essa chatura da vida real em roteiro de emoções fortes, sem fazer o alagoano refletir mas aceitar a edição das cenas como uma escolha pessoal do diretor.
O xerife da polícia é acusado de torturar um torcedor para ele confessar um crime que os advogados negam. Um filme fala dessa relação entre o advogado e o diabo. Ninguém acredita no advogado. E como alguém precisa acreditar no xerife, o governador vira advogado. Fim de papo.
O delegado abre a porta do seu camarim, narra um ritual burlesco no assassinato da estudante Bárbara Regina, faz os trejeitos do crime medonho, arranca da sociedade o suspiro do medo e do ódio, essa fúria destrutiva embalada nas vísceras da criatura.
E a PC reinventa os manuais de investigação: um crime sem corpo, sem assassino, sem canavial e sem carro. Flashes para os jornais para as páginas de política. Não as de fofoca.
Ladrões de banco são presos sob o calor alegre de 30 graus. E, apresentados no paredão da verdade, desgrenhados, miseráveis, sem um vintem no bolso. Juram inocência. Ninguém acredita no diabo.
Os chefes das quadrilhas não aparecem nem com as moedas. Os chefes das quadrilhas? Eles não existem. São sombras ou nuvens. Areias da praia de verão. Ninguém agarra.
Mas, há algo inovador que a cúpula da PC- sempre aguerrida- nos ensina: o alagoano é criminoso. Na nossa sociedade não há homens cordiais, mas ladrões, sáfaros, assassinos, degredados sociais, engalfinhados por programas sociais do PT demoníaco em uma terra que deveria virar um golfo- como defendeu Graciliano Ramos.
Alguém duvida? Basta assistir às abordagens da Força Nacional em qualquer lugar (vi uma destas no Centro da cidade).
Nosso céu azul, nossas praias e nossos corruptos podem agora ficar menos preocupados.
A cúpula da PC alagoana oferece os atos heroicos, mostrando que giramos diante de oligarquias de traficantes executando drogaditos ou mulheres atrás de machos- tudo explicado, claro, pela nossa inferioridade de ser alagoano, talvez um defeito genético ou um castigo por, um dia, termos devorado o bispo Sardinha.
A criminologia, essa ciência que deveria nos libertar da ignorância, fica aos que acreditam na vida real. Não cabe nessa novela.