Pistolagem, drogas e números imprecisos marcam estado mais violento do Brasil

Pelos dados do Instituto Sangari, Alagoas- o segundo menor estado brasileiro- está no topo dos homicídios no Brasil. São 66,8 homicídios a cada 100 mil habitantes

Luiz Ferreira e Rita: 12 tiros encerram carreira de médico e vereador

Odilon Rios
reporternordeste.com.br

Luiz Ferreira conheceu a mulher Rita em uma ponte, no Rio de Janeiro. Para não perder a paquera, Luiz amarrou, em uma pedra, um pedaço de papel, com o número do telefone. Entregou o pacote. Ela ligou e quis conhecê-lo. Casaram-se e mudaram para Alagoas na década de 70.

Ele realizou o sonho da mãe semi-analfabeta, moradora da cidade de Anadia, no interior alagoano: virou médico-cirurgião. Rita, filha de pais libaneses que escaparam das tropas nazistas na Alemanha de Hitler, é professora de dança.

Doze tiros encerraram o casamento dos dois.

Vice-presidente da Câmara de Vereadores de Anadia, Luiz saía, no sábado, 3 de setembro, de uma rádio na cidade de Maribondo. Dava orientações em um programa de saúde. Antes de encerrar, um ouvinte perguntou se ele era candidato a prefeito de Anadia.

– No ar, o Luiz disse que era candidato, lembra o ex-cunhado e amigo de infância, João Sapucaia.

O médico assinou a sentença de morte.

Segundo a polícia civil, Tiago dos Santos Campos e o policial militar Cláudio Magalhães armaram a emboscada e mataram o médico. A trama foi planejada pela prefeita de Anadia, Sânia Tereza (PT) e o marido Alessander Leal. Todos estão presos pelo crime.

Luiz Ferreira era o voto de Minerva em um pedido de cassação- movido pela Câmara de Vereadores- contra a prefeita. A sessão seria no dia 6 de setembro. Ele foi assassinado três dias antes. Sânia é investigada- por corrupção- em 13 órgãos estaduais e federais.

– O pai do Luiz entrou em parafuso e ficou internado em um hospital; os filhos dele pensaram em abandonar os estudos por causa da revolta; a mulher dele, a Rita, com uma história tão bonita, luta contra um câncer de mama sozinha, sem o companheiro. É um crime brutal.

Pelos dados do Instituto Sangari, Alagoas- o segundo menor estado brasileiro- está no topo dos homicídios no Brasil. São 66,8 homicídios a cada 100 mil habitantes.

Mas, para os setores da sociedade civil, a forma de combate aos índices, chamados por todos eles de “alarmantes”, são diferentes. Reconhecem que a droga- o crack- é uma das principais causas- mas não a única.

– Eu não confio nas estatísticas de Alagoas. Não sei se elas são subestimadas ou superestimadas. Sabemos dos homicídios, mas e a arma que matou? Foi arma branca? De fogo? Foi suicídio, que não é homicídio? Eu não sei se estes números são reais, disse o integrante do Conselho Estadual de Segurança, Marcelo Brabo Magalhães.

– Não se pode negar os índices de Alagoas. Mas, temos um problema que acontece em situações do dia a dia. Uma pessoa morre afogada na lagoa, por exemplo. Uma pessoa liga a polícia e informa o crime. Isso gera um dado. O Instituto Médico Legal é chamado. Gera o segundo registro. A Polícia Civil chega ao local. Terceiro registro. O Instituto de Criminalística chega ao local. Quarto registro. Estamos discutindo colocar pulseiras nos corpos, para não existir vários registros nos corpos, disse o procurador-Geral substituto, Sérgio Jucá.

– Não quero comparar a violência ou os números de Alagoas com outros estados porque não sei se as estatísticas dos outros estados- que servem de base a estes relatórios- são confiáveis. A nossa estatística é confiável por ser feita pelo Conselho Estadual de Segurança. Temos ideias como o fim dos quarteis- uma estrutura cara, que pode ser menor- retirar policiais de funções como motoristas, atendendo telefone ou abrindo e fechando porta- fazer policiamento comunitário. Todos querem, mas, na prática a PM e a polícia civil resistem ao plano. Há delegacias que estão nas cidades e que não registram homicídios. Por que não colocarem esta delegacias nas cidades que mais precisam?, questiona o presidente do Conselho Estadual de Segurança, Paulo Brêda.

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