Para evitar mortes, juizes pedem Exército nas eleições de Alagoas

Vinte porcento das cidades de Alagoas pediram, ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o envio de tropas do Exército para reforçar a segurança nas eleições. Isso porque os juizes eleitorais temem um banho de sangue ou a compra desenfreada de votos nestes lugares. Quem mora nestes municípios teme morrer, se declarar, em público, o próprio voto.

A pequena Minador do Negrão fica a 169 quilômetros de Maceió. O município tem pouco mais de cinco mil habitantes mas é considerado, pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o mais violento em período eleitoral. Desde 2004, o voto só é garantido por tropas federais. A delegacia só tem dois policiais, por turno. E, esta semana, presos fugiram do prédio.

– É melhor ficar calado, né? Eleição é assunto proibido. Melhor ter o pessoal da federal, né?, diz uma moradora da cidade, sob anonimato.

A cidade é dominada pelo medo. Há anos, a família Ferro manda no comércio, na política, nos nomes dos prédios públicos e está dividida em Minador na disputa a Prefeitura. Em 2004, José Nilton Cardoso Ferro armou uma emboscada com mais três integrantes da família Ferro e fuzilou o carro do então primo e deputado estadual Cícero Ferro. O parlamentar escapou da saraivada de 150 tiros no veículo.

– Aqui é uma tensão só. Não se fala nada, não se mostra nada, diz outra moradora.

Os primos foram formalmente acusados pelo crime, através do Judiciário que, em abril deste ano, decidiu pelo desaforamento do caso para Maceió. Isso porque o juri poderia sofrer represálias de ambos os lados.

Em agosto do ano passado, Luiz Carlos Ferro foi assassinado durante uma festa. Ele era marido da prefeita, Socorro Ferro (PSDB). Ambos rivais de Cícero Ferro.

Na eleição deste ano, apenas Socorro Ferro vai para a disputa. Thalitta da Rocha Ferro (PSC), filha de Cícero, renunciou.

Na cidade, a delegacia tem dois policiais para fazer a segurança. Na época do atentado, Cícero Ferro teve cinco policiais militares para protegê-lo, a mando do governador.

– Tinha tanta segurança com o deputado que até os policiais daqui tinham medo deles, disse um morador.

A disputa pelo voto em Alagoas preocupa o Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Em dez anos, dois prefeitos e cinco vereadores foram assassinados no Estado por causa da tensão política. Vinte e uma cidades pediram tropas federais na votação deste ano.

O último assassinato foi em setembro do ano passado. O vice -presidente da Câmara de Vereadores da cidade de Anadia e também médico, Luiz Ferreira (PPS), havia anunciado em uma rádio que era candidato a prefeito da cidade. Horas depois, foi morto em uma emboscada. A prefeita, Sânia Tereza (PT) e o marido dela, Alessander Leal, foram presos pelo crime. A Polícia Civil descobriu que Ferreira era o voto de Minerva em pedido de cassação do mandato contra a prefeita por corrupção, que aconteceria em votação na Câmara, na semana seguinte. O médico votaria pelo “sim”.

Em 2006, na cidade de Roteiro, o prefeito Edvaldo dos Santos, o secretário de Turismo e um assessor foram mortos em uma estrada vicinal, entre plantações de cana, dentro do carro do prefeito. Eles voltavam de um comicio. O crime jamais foi esclarecido. O Tribunal de Justiça considerou que o inquérito, assinado pelo delegado, deveria ser refeito por outro.

– Temos o registro deste assassinato e temos também o conflito entre cabos eleitorais. Este clima de instabilidade me fez pedir tropas federais, disse o juiz Hélio Pinheiro, cuja zona eleitoral cuida de quatro cidades.

Uma delas é a Barra de São Miguel. Em agosto, por ordem do Tribunal de Justiça, o prefeito Reginaldo Andrade foi afastado do cargo, acusado de corrupção. Assumiu o vice, George Raposo Maia, o Lelo Maia, que renunciou nove dias depois, alegando que o município estava falido. O presidente da Câmara foi empossado.

– Há instabilidade política na cidade e notícias de ameaças de morte. A segurança fica garantida pelas tropas federais, adiantou o magistrado.

.