Royalties para o futuro

A ilusão do dinheiro fácil impede o debate sério das consequências futuras

Aluizio dos Santos Júnior (Dr. Aluizio)- é deputado federal (PV-RJ)

A discussão a respeito dos royalties do petróleo traz à tona a saga política em busca de recursos financeiros. Uma cortina de equívocos sustenta o debate e ilude a população.

Comparam os recursos advindos da compensação pela exploração de um bem finito com impostos comuns devidos aos estados.

Chega-se a propor a troca de ICMS pelos royalties, tamanha a confusão. O cerne não é somente o quanto se ganha, mas antes de tudo como se gasta esse dinheiro, cujo fim é preparar toda uma região para a fase pós-petróleo, logo, sem royalties.

A ilusão do dinheiro fácil impede o debate sério das consequências futuras. Morador da cidade de Macaé, que há 33 anos tem como principal atividade econômica a exploração do petróleo, vejo que poucos lugares neste país conhecem a verdade de uma sociedade baseada no hidrocarboneto.

Fortuna e miséria convivem num mesmo espaço, separados fisicamente por uma ponte.

O eldorado do petróleo não consegue tratar o esgoto da maioria da população.

Água encanada ainda é um sonho de consumo de milhares de moradores, que vivem em risco sanitário e habitacional. Os empregos deveriam ser fartos, mas a falta de qualificação deixa os jovens à margem do mercado de trabalho, as oportunidades passam e fica a criminalidade.

O elevado custo de vida obriga a invasão de áreas impróprias para habitação, enquanto outras são aterradas para abrigar galpões de novas empresas, configurando um desmando ambiental sem precedentes. Para completar, fossas sépticas e poços artesianos convivem num mesmo quintal em milhares de casas.

Discutimos o pré-sal sem nos perguntarmos como o encontramos. Dádiva de Deus, destino, sorte? Claro que não.

Descobrimos o pré-sal pois, ao longo destes 30 anos de exploração de petróleo, agregamos conhecimento graças aos trabalhadores, muitos dos quais perderam suas vidas em acidentes. Precisamos encarar estes afortunados recursos como instrumentos de sustentabilidade, com foco na justiça e equilíbrio entre a geração atual, que explora o óleo negro, e as futuras gerações, que não mais o encontrarão como fonte de riquezas.

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