Artigo: Seis meses sem meu Tiago

Maria José da Silva – Zezé

Hoje completa 06 meses sem a presença física do meu amado filho Tiago… Seis meses de tristeza e de dores disfarçadas
em sorrisos…. Então, as vezes fico a me perguntar: “Como posso viver desta forma, sem sentir gosto e alegria em viver? Como viver e conviver com esse medo de que eu viva mais que meu amado filho Diego? O que fazer para não multiplicar tanta dor, se outras pessoas queridas também estão partindo para a outra dimensão?”

Sei que não estou depressiva, sei que o que sinto são sintomas naturais em uma mãe que ver seu filho ou sua filha partir de uma forma tão brusca e tão violenta e também de uma cunhada que viu a esposa do seu irmão partir.

Também sei de que nada adianta ficar só olhando a vida passar, esperando ser presenteada com a morte… Enquanto esse dia não chega, devo buscar motivos para continuar viva, além dos muitos que já tenho, como meu Diego, meu netinho Tiago Gabriel, minha família querida, minhas amigas e meus amigos, meu trabalho…

Mesmo sem entusiasmo pela vida, devo fazer ações nobres, porque, tenho consciência de que tenho uma missão (ou missões) nesta vida e que devo aprender, mesmo com as piores dores. Isto é o que me torna mais humana e me leva mais perto de meu Deus, que é um Deus de Justiça e de solidariedade, é o Deus do perdão e do amparo.

Sei que é este Deus que me dá forças para suportar tanta dor e tantas incertezas. Pois, além da dor de ver a partida do meu Tiago também vi a partida da nossa querida Teo, minha cunhada que, tão jovem, também fez sua viagem tão subitamente há um mês.

Sei que ela, assim como meu Tiago, está num bom lugar, porque ela sempre foi muito solidária e sempre pensou no coletivo, sempre se dedicou a fazer o bem sem olhar a quem.

Dedico esta carta ao meu amado Tiago e à minha querida cunhada Teo. Que ele e ela sejam abençoado e abençoada por Deus, que seus caminhos sejam de luz.

E que sejam de luz e de perdão também os caminhos dos assassinos do meu Tiago, que a mão de Deus toque em seus corações para que eles se arrependam do que fizeram, para que eles não façam com outras mães o que fizeram comigo e com minha irmã Duda, que era, e ainda é, a segunda mãe do meu Tiago.

Que Deus toque também nos corações e nas mentes de mulheres e homens que estão pleiteando cargos para o legislativo e o executivo municipais, que elas e eles tenham consciência da grande responsabilidade que têm com relação à erradicação da violência, pois, tudo começa (ou termina) com investimentos, ou não, nas políticas públicas.

Que tenhamos a dimensão da nossa responsabilidade na construção de um mundo melhor, sem desigualdades nas relações, sem desrespeito às diferenças e com o compromisso de fazer a nossa parte na erradicação da violência.

Porque, sejamos da sociedade civil, sejamos do poder público, todas e todos têm suas obrigações, em maior ou menor grau, para que haja, de fato, uma transformação radical na realidade em que vivemos.

2 respostas

  1. Encontrar forca na dor ‘e uma virtude de poucos.
    Dor que se mistura a revolta e ao mesmo tempo a saudades.
    Perder alguem querido de forma bruta mostra que nao estamos livres. Muitas oracoes para Tiago! Forca Zeze.

  2. Agradeço a vocês pela divulgação da minha carta.
    Um grande abraço e muito força para as pessoas que estão na mesma situação em que me encontro!

.