Um significado para o holocausto

Os campos de concentraçao ensinaram a um psicólogo que um quadro como aquele não poderia ser permanente

Odilon Rios
reporternordeste.com.br

O significado carrega um poder. Uma meta. O suicídio surge como uma alternativa daquele instante. Por que não encerrar tudo? Usar-se do próprio poder para por um fim à dor, à agonia da existência?

Viktor Frankl, eminente psicólogo, psiquiatra, sobrevivente dos campos de concentração (o mais famoso de todos, o de Auschwitz), viu os amigos morrerem nas mãos dos carrascos; os familiares serem eliminados nas câmaras de gás.

O caos da guerra- ou da loucura da ideia corrente na Alemanha desde sempre- a eugenia- poderia ter um olhar oculto. Diferenciado.
Era o sentido. O conhecido médico precisava sobreviver ao horror para denunciá-lo- apesar de muitos duvidarem, perdidos em números, estatísticas, vírgulas inconclusas da história.

A vontade deveria governar os sentidos. Estar consciente diante da tensão das armas, dos gritos, do poder psicológico da morte, em meio a homens que valiam menos que os porcos. E, com eles, não deveria-se gastar as pérolas, a vida, os exemplos pessoais.

“Dá para imaginar uma situação para um ser humano que seja mais cheia de stress do que Auschwitz?”, a pergunta de Viktor Frankl é respondida por ele, em uma entrevista: as taxas de suicídio nos campos de concentração eram incrivelmente baixas. Não por ser um lugar “vivível”, mas porque as pessoas acreditavam que o horror seria superado em alguma de suas etapas, apesar de saberem que a natureza humana não dava saltos.

O quadro psicótico e deplorável não poderia ser permanente. Era a crença.

É diferente da mesma Europa de hoje, em meio ao desemprego e ao avanço do mercado comum como solução dos problemas econômicos, transformando a angústia em etiquetagem dos laboratórios farmacêuticos.

Os campos de concentração desafiavam a vontade de viver. A busca pelo ser apesar do estar ali.

“O que os jovens precisam é de ideais e desafios, tarefas pessoais e – em primeiro lugar – exemplos, exemplos pessoais, mas não dos covardes, as pessoas covardes que não os enfrentam em nada porque eles poderão ficar bravos porque estão sendo desafiados”, diz o médico.

Essa vontade não é algo religioso-perjorativo. É religioso sim porque a fé cresce dentro de si. De mim. Para acreditarmos juntos. Sonharmos juntos.

É aquele homem do nosso poeta Cruz e Souza “O ser que é ser transforma tudo em flores… / e para ironizar as próprias dores /canta por entre as águas do Dilúvio”.

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