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O dia em que a escola parou

Procurando entender como se dão os fenômenos emocionais na escola,  isolei uma emoção específica que no final acabou sendo a matriz de muitas outras: o medo. Certamente este tem nos invadido diariamente na vida urbana, mas ele não se restringe a rua e aos ambientes públicos, mas adentra o particular, o íntimo e o individual.

Na escola, o medo funciona como dispositivo manco de coesão organizacional. Manco, pois nunca haverá coesão e sim silêncio, omissão e descaso. Emoções intensas fazem parte do cotidiano escolar, como dito no texto A Escola é dos Afetos, e cabe aos diretores, os que tomam a frente dos processos administrativos da escola, disporem da autoridade necessária para reger um ciclo de medo. É quando o trabalho escolar se torna um peso.

A responsabilidade do trabalho na escola recai sobre todos. Sabemos da importância da educação e o trabalhar faz sentido, mas apenas a disposição para o trabalho não é suficiente. É preciso, sobretudo, a prudência na opinião, no jeito que se trabalha. Tudo precisa estar de acordo com as hierarquias de poder regimentadas pelo próprio sistema educacional. A sala de aula não é um lugar em que a maioria dos professores se realiza, é abaixo de mais na hierarquia e isso incomoda mais do que índices incipientes da educação.

O medo vem das relações estabelecidas no ambiente de trabalho, da dinâmica própria de cada escola. Mas algo se caracteriza como universal: os olhos do poder estão sempre postos em cima da equipe pedagógica e nada pode ocorrer sem o aval dele.

Certamente não somos educados para lidar com o poder, mas não podemos negar que estamos sempre sob sua influência. Quando nos imobilizamos diante dele estamos fadados ao adoecimento dos valores. Na escola, isso não é diferente. A experiência grupal recheia-se de nódulos afetivos que se retroalimentam de medo. Efetivos, contratados e estagiários procuram organizar-se no meio dos ovos que pisam com muita cautela. De fato, a escola não tem sido um lugar de diálogo, tem sido um modelo de educação abandonado, sucateado e precarizado.

Não ousarei dar alternativas à educação pública, é um assunto complexo e merece muito mais atenção do que apenas as minhas impressões sobre o cotidiano. Os professores precisam de apoio, as escolas não estão preparadas para isso, afinal de contas, não se pode apoiar alguém quando as próprias bases estão quebradiças. O descaso vem de cima. Nosso olhar à escola não deve ser de julgamento, deve ser, no máximo, de tristeza.

Uma resposta

  1. Muito boa meu caro amigo, a sua reflexão. Mesmo não desejando também, como você, julgar menos do que refletir, não podemos alijar do nosso pensar a ideia de que as políticas públicas tratam realmente a educação como um processo irrelevante, relegado a planos bem inferiores. Sem uma educação eleita como Política de Estado, sujeitar-nos-emos a uma instável política de governo, onde o estado vira ” casa de mãe Joana”, numa instabilidade eterna.

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