Em conversa entre amigos, é comum ouvir um ou outro se queixando de dívidas ou confidenciando que estão no “vermelho”. A inflação e o consequente aumento no preço de produtos e serviços contribuem para elevar o endividamento. Em Maceió, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) realizada pelo Instituto Fecomércio AL em parceria com a Confederação Nacional do Comércio (CNC) demonstra que, em julho, o endividamento na capital cresceu 2,04%.
Mas há um fato positivo: apesar da elevação, o percentual de endividados com conta em atraso recuou 0,63% e, o de inadimplentes, 6,73%. “Para o comércio, as reduções destes percentuais são bons indicativos, pois ressaltam que os maceioenses voltaram a consumir via crédito, bem como estão pagando em dia e se livrando das dívidas, abrindo espaço no orçamento para novas aquisições”, avalia Felippe Rocha, assessor econômico da Fecomércio.
De acordo com o especialista, este resultado pode ser explicado pela Pesquisa Mensal do Comércio de junho, divulgada ontem (09/08) pelo IBGE, segundo a qual o Volume de Vendas no Varejo em Alagoas subiu 0,2% entre maio e junho. Apesar de ser uma tímida elevação, o desempenho está acima da média do Brasil (0,1%) e reflete uma boa recuperação quando comparada ao mesmo período do ano passado, cujo desempenho tinha sido negativo em 6%. “Este acréscimo no volume de venda refletiu positivamente na receita nominal dos empresários do comércio em Alagoas, já que houve uma elevação de 5,2% em junho”, acrescenta Rocha.
DESEMPENHO
Os números da PEIC mensuram o endividamento e a inadimplência sobre o uso de cartões de crédito, de empréstimos pessoais, utilização de carnês de loja, financiamentos de automotores e habitação, tornando-se uma ferramenta importante para avaliar o desempenho do comércio e as condições dessa atividade econômica, uma vez que indicam, indiretamente, o retorno dos níveis de emprego e do investimento por parte das empresas dos setores do comércio, de serviços e da indústria.
No levantamento de julho, 59,8% dos entrevistados se declararam endividados. Dentro desse universo, houve elevação de 1,3% entre os que disseram estar ‘muito endividado’ (24,3% contra 25,6% alcançados em junho). O percentual de consumidores que afirmaram estar ‘mais ou menos endividado’ também aumentou e registrou 17,3%, quase o mesmo percentual dos que disseram estar ‘pouco endividado’ (17%). “Vemos que, no último trimestre, apesar de ter ocorrido um aumento das pessoas endividadas, mas que pagam em dia, houve também acréscimo dos consumidores que estão ficando muito endividados, o que pode, se não for utilizado com cautela, trazer um retorno dos índices de inadimplência da capital”, analisa.
A pesquisa sinaliza ainda que, apesar de ter ocorrido uma redução do número de inadimplentes e dos consumidores com contas em atraso, as famílias que possuem dívidas estão ficando cada vez mais endividadas e correm o risco de não mais honrar o compromisso financeiro em dia. Isso porque saltou de 24,9% (junho) para 29,3% (julho) o número de famílias que disseram ter condições de pagar apenas parte das dívidas.
Assim como nos meses anteriores, a principal forma de endividamento é via utilização do cartão de crédito. Mas apesar de ser o preferido entre os consumidores, o uso do cartão tem sido reduzido mês a mês, o que significa que os consumidores da capital vêm buscando outras formas de financiamento. Em contrapartida, houve aumento na procura pelo crédito consignado, saiu de 4,10% (junho) para 4,70% (julho). “A queda no cartão de crédito decorre, provavelmente, dos altos juros cobrados nessa modalidade. Por outro lado, o aumento da busca pelo empréstimo consignado pode explicar a redução dos níveis de endividamento da capital, pois consumidores podem estar procurando esses recursos financeiros para pagar dívidas anteriores e saírem da inadimplência visando limpar o nome e adquirir novo crédito na economia”, estima Rocha.
Atualmente, o tempo médio em que os consumidores da capital passam com dívidas em atraso é de 65 dias. Já o tempo médio de consumidores que preferem se manter com dívidas (parcelamento da compra) é de 6,1 meses com um comprometimento médio de 27,2% dos salários.
Relatório completo disponibilizado em www.fecomercio-al.com.br/ifepd
TABELAS
Tabela 1 – Nível de Endividamento
-
Nível de Endividamento
Julho Junho Maio Muito Endividado 25,6
24,3
23,6
Mais ou menos Endividado 17,3
16,7
17,3
Pouco Endividado 17
17,6
20,3
Não tem dívidas desse tipo 40,2
41,4
38,5
Total de Endividados 59,8
58,6
61,3
Fonte: IFEPD/AL. CNC
Tabela 2 – Tipo de dívida
-
Tipo de Dívida
Julho Junho Maio Cartão de Crédito 86,40%
86,90%
87,10%
Carnês 6,60%
6,50%
6,90%
Crédito Consignado 4,70%
4,10%
2,20%
Crédito Pessoal 4,50%
5,10%
4,40%
Outras Dívidas 4,20%
4,50%
5,20%
Fonte: IFEPD/AL. CNC
Tabela 3 – Famílias com contas em atraso
-
Famílias com contas em atraso
Julho Junho Maio Sim 52%
53,40%
52,40%
Não 48%
46,60%
47,60%
Total de famílias com contas em atraso 31,1
31,3
32,1
Fonte: IFEPD/AL. CNC
Tabela 4 – Condição de pagamento das dívidas em atraso
-
Condição de pagamento das dívidas em atraso
Julho
Junho
Maio
Totalmente 6,9
7
6,6
Parcialmente 29,3
24,9
22,9
Não 58
61,7
60
Fonte: IFEPD/AL. CNC