Sem medidas concretas para ajuste fiscal, Meirelles frustra mercado

Rosana Hessel

O governo tentou ontem criar um fato extremamente positivo com a divulgação da equipe econômica, mas a reação ficou pela metade. Apesar de aprovarem os nomes anunciados pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, os investidores se ressentiram de medidas concretas para retirar o país do atoleiro e do fato de o time estar incompleto. Na avaliação de especialistas, enquanto não for apresentado um plano concreto de ajuste fiscal, com corte de despesas e reformas como a da Previdência Social, vai imperar a desconfiança.

Para indicar que está atento aos anseios do mercado, Meirelles recorreu ao mantra que adotou desde que chegou ao governo: “Devagar, que eu estou com pressa”. O tempo dele, porém, pode estar aquém do que os agentes econômicos consideram necessário para a administração de Michel Temer agir. O rombo nas contas públicas não para de crescer. As novas estimativas apontam para um buraco de até R$ 150 bilhões. Enquanto não houve um plano consistente de arrumação das contas públicas, as taxas de juros não poderão cair.

Meirelles acredita que os investidores lhe darão crédito pelo tempo que precisar. E depositou essa confiança na equipe conhecida ontem. O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, assumirá a Presidência do Banco Central, no lugar de Alexandre Tombini, que permanecerá na função até que o nome do sucessor seja aprovado pelo Senado. O ministro ressaltou que Tombini poderá continuar no governo. “Gostaria de dizer que contamos, sim, com a hipótese de Alexandre Tombini continuar integrando a administração federal”, afirmou.

Carlos Hamilton, ex-diretor do Banco Central, será secretário de Política Econômica da Fazenda. Mansueto Almeida, pesquisador licenciado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), responderá pela Secretaria de Acompanhamento Econômico. Já o economista e pesquisador do Ipea Marcelo Caetano comandará a Secretaria de Previdência Social, responsável por traçar as diretrizes da polêmica reforma que o governo promete levar adiante. Segundo o ministro, Hamilton será o “formulador da política econômica” e Almeida terá como missão fazer um profundo diagnóstico das contas públicas.

A equipe da Fazenda conta ainda com Tarcísio Godoy na Secretaria Executiva e com o economista Marcos Mendes, consultor do Senado e autor de um estudo sobre pedaladas fiscais, como assessor especial de Meirelles. Permanecem nos cargos os secretários da Receita Federal, Jorge Rachid, e do Tesouro Nacional, Otávio Ladeira, em função da experiência que possuem, algo positivo no entender dos investidores. Os nomes para os bancos públicos — Caixa Econômica e Banco do Brasil, principalmente — serão anunciados em um segundo momento, provavelmente, ainda nesta semana.

Cide e CPMF
Sem propostas concretas nas mangas, Meirelles fez questão de ressaltar que a proposta de reforma da Previdência é para valer. Ele destacou que partiu dele a sugestão para que fosse criado um grupo de estudos que, em 30 dias, apresentará um diagnóstico completo e o que é possível fazer para estancar o deficit nas contas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O acerto foi feito em reunião, anteontem, entre Temer e representantes de centrais sindicais. Para o ministro, à medida que os agentes econômicos forem se conscientizando do esforço do governo para arrumar a economia, a confiança voltará e a retomada da atividade se dará de forma gradual. “A retomada da confiança é algo geométrico, começa devagar e depois acelera”, disse ele, acrescentando que a prioridade do governo será aumentar o emprego, depois o consumo e a arrecadação.

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