Segundo a agência, as 1.843 células progenitoras hematopoéticas (CPH) do cordão umbilical e placentário teriam sido armazenadas em tanque de nitrogênio líquido em temperatura acima de –150 graus Celsius, no período de 13 de maio a 23 de outubro de 2015, o que é considerado irregular. O armazenamento deve ser, sempre, abaixo dessa temperatura. O problema mais grave, também segundo a Apevisa, teria sido a descoberta do armazenamento com temperaturas positivas observadas entre os dias 10 e 23 de outubro do ano passado. A Vigilância Sanitária também teria detectado que o principal agente usado para congelar as células (Dimetilsulfóxido –DMO) é altamente tóxico para o material, se deixado em temperatura ambiente.
Nesta terça-feira (1/3) foi publicada a portaria 001/2016 determinando a pena de inutilização dos cordões umbilicais, assinada pelo diretor-geral da agência, Jaime Brito de Azevedo. A decisão da agência atende à mesma recomendação feita pelo MPPE. As duas instituições concluíram que as bolsas não possuem a qualidade e segurança requeridas ao uso terapêutico, devendo ser descartadas. A situação também foi avaliada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por meio de parecer emitido pela Gerência de Sangue, Tecidos, Células e Órgãos, onde conclui que “o desvio de qualidade identificado representa risco, agravo ou consequência grave à saúde dos pacientes que receberiam esse material, podendo levar inclusive ao óbito.”
As inspeções feitas pela Apevisa ao Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário do IHENE aconteceram nos dias 9, 10, 13 e 20 de novembro de 2015. Segundo a promotora de Defesa da Saúde, Ivana Botelho, não se tem notícias de que, no período entre o aumento de temperatura e a interdição do banco, tenham sido coletados ou retirados cordões umbilicais da unidade. “A interdição foi feita de imediato, assim que a denúncia de um possível descongelamento dos cordões armazenados foi comprovada. A publicação da portaria se deu somente agora porque foi o tempo necessário do trâmite do processo de investigação, mas o banco está interditado desde novembro”, explicou a promotora de Justiça.
À TV Globo, o diretor-geral do Instituto de Hematologia do Nordeste (Ihene), Clemente Tagliari, afirmou, no início da manhã desta quarta-feira (2), ter ficado surpreso com a divulgação da portaria da Apevisa. Disse ter sido informado pela reportagem e ainda não ter sido notificado oficialmente sobre a determinação de inutilizar as células de cordão umbilical congelados. O JC Online entrou em contato com a assessoria de imprensa do IHENE, mas não teve retorno.