Sírios morrem de fome na cidade sitiada de Madaya

France Presse

“A MSF dispõe de relatórios médicos claros indicando que 46 pessoas morreram de inação em Madaya desde 1º de dezembro”, afirmou a organização neste sábado à AFP.

“O número de vítimas é certamente maior, porque há relatos de pessoas que teriam morrido de fome em suas casas”, acrescenta MSF.

Os casos atuais de desnutrição são estimados em 320 nesta cidade a oeste de Damasco, incluindo 33 pacientes em “perigo mortal”, segundo a MSF.

“Os habitantes da cidade síria sitiada de Madaya continuam a morrer de fome, apesar dos comboios de ajuda humanitária”, lamentou MSF, que chamou a situação de “inaceitável”.

A organização humanitária acusa as forças leais ao regime do presidente sírio Bashar al-Assad de “continuar a bloquear o fornecimento do equipamento médico e medicamentos essenciais”.

“É necessária uma presença médica permanente e independente em Madaya, porque acreditamos que a situação médica vai piorar, enquanto o acesso aos cuidados para as pessoas é extremamente limitado”, defende o diretor de operações de MSF, Brice de Vingne.

Madaya, onde mais de 40.000 pessoas vivem sob o cerco há meses, se tornou um símbolo do sofrimento da população civil na Síria desde o início da guerra, em 2011.

O destino desta cidade também é um ponto sensível para a realização das atuais negociações de paz para a Síria em Genebra.

Os principais grupos de oposição sírios reunidos em Riad nos últimos dias exigem a implementação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que ordene o fim dos bombardeios em áreas civis e um acesso humanitário às áreas sob cerco.

Segundo a ONU, cerca de 486 mil sírios vivem em cidades sitiadas pelas forças do regime, os rebeldes ou os jihadistas do Estado Islâmico (EI).

A operação que permitiu a entrada de alguns comboios humanitários em Madaya em meados de janeiro também envolveu as cidades xiitas de Fua e Kafraya, cercada pelos rebeldes na província de Idleb (noroeste), mas onde a situação era considerada menos catastrófica do que em Madaya.

As organizações humanitárias têm apelado repetidamente para o acesso incondicional aos civis sitiados em conformidade com o direito humanitário internacional.

O chefe das operações humanitárias da ONU lamentou esta semana que 75% dos pedidos de acesso para assistência humanitária foram ignoradas pelo governo sírio.

A guerra civil na Síria começou em março de 2011, com manifestações pacíficas em defesa da democracia, mas, reprimidas de forma sangrenta pelo regime do presidente Assad, o conflito degenerou-se em revolta armada. Com o passar do tempo e o surgimento de vários grupos, tem se tornado cada vez mais complexa, com uma multiplicidade de beligerantes.

A guerra já causou mais de 260.000 mortos e milhões de deslocados.

 

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