Cobertura sensacional, em 2008 e agora

Num dos momentos mais absurdos da cobertura, o criminoso deu entrevista por telefone celular para um desses programas de inutilidades, que reproduzem a velha receita baseada no grotesco

Gazeta de Alagoas

Foi um espetáculo há três anos; é um novo espetáculo agora. Pode terminar hoje o julgamento de Lindemberg Alves, o jovem que matou a estudante Eloá Pimentel, uma adolescente alagoana que morava em Santo André, São Paulo.

A tragédia familiar, ocorrida em 2008, ganhou ingredientes sensacionais ao ficar na mira das câmeras de TV naquele ano. Não demorou muito e o sequestro em andamento começou a ser transmitido ao vivo por várias televisões.

Num dos momentos mais absurdos da cobertura, o criminoso deu entrevista por telefone celular para um desses programas de inutilidades, que reproduzem a velha receita baseada no grotesco. Tudo pelas migalhas de alguns pontinhos na audiência, o oxigênio na telinha.

Aliado a isso, naturalmente, o cenário serviu à perfeição para os “âncoras” dos programas policiais. Todos puderam dar seus gritos de indignada ensaiada.

A jovem morreu após uma sucessão de erros de autoridades que conduziam a negociação com o invasor do apartamento onde Eloá morava.

Nos dias seguintes ao episódio, o assunto continuou sendo alvo de abordagens equivocadas, ao mesmo tempo em que travava-se um debate justamente sobre a cobertura da imprensa no caso.

Como em outras ocasiões, muito se falou no calor da hora, mas nada de aproveitável foi proposto – e nem se trata de impor qualquer restrição ao trabalho da imprensa.

Não é esse o ponto. É necessário, porém, que se reflita sobre formas de evitar erros aberrantes na exposição de situações como o drama da família de Eloá.

O exagero, o falta de senso ético e a linguagem apelativa estão de volta ao noticiário, sobretudo o televisivo com seu impacto natural das imagens. Nada mudou de 2008 para cá, e sobre o mesmo assunto.

Acusada até de contribuir com o fim trágico do sequestro, parece que a grande imprensa sequer avaliou direito a nova cobertura. Vai no mesmo embalo.
Noticiar sempre, mas com responsabilidade e com o devido respeito às pessoas.

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