Crônica de Dany

 

Arthur de Alencar

Dany era uma menina que roía as unhas. Um hábito que mantinha sem perceber, quando até que enfim viu em outra garota o reflexo do que queria para si: unhas grandes e coloridas!

Rejeitou a ansiedade e libertou-se das próprias correntes, agarrando a esperança fixada em um quadro que representava a imagem de seu próprio futuro, tomou as rédeas de sua própria potência!

Em pouco tempo, as unhas que só existiam em sua imaginação começaram a fazer parte da realidade, ocupando metade do espaço que foi reservado para elas por Deus e pela paciência de Dany que não pensou duas vezes antes de colori-las.

Quando em êxtase pela vitória alcançada, correu para mostrar sua conquista à menina que representava a perfeição do futuro de suas unhas, foi recebida com desprezo; ela olhou para as mãos de Dany e viu apenas cotocos de unhas pela metade, nada se comparado as suas próprias unhas, fingiu que não viu, ignorou e nem ligou.

A imagem de perfeição vislumbrada por Dany transformava-se em propriedade intelectual que após passar por sua retina, integrou-se como parte de sua memória, a menina que era motivo de inspiração perdera todo o valor e junto a sua incapacidade de ser sensível é reduzida a mais um bloquinho de tijolo dentre tantos outros bloquinhos, que aos poucos constituem uma gigantesca estrutura de vida conhecida como Dany.

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