Coaracy Fonseca escreve: Os folguedos populares 

Coaracy Fonseca é promotor de Justiça e ex-procurador Geral de Justiça de Alagoas 

As manifestações do folclore são fundamentais à formação dos elos de coesão social e para a construção da identidade de um povo.

Através dos folguedos, que brotam, espontaneamente, do seio da comunidade, o povo manifesta o seu modo de fazer, saber e pensar e, sobretudo, elabora a crítica ao sistema social e econômico, nuances que vão além do aspecto lúdico e estético.

Os festejos juninos constituem indicativo de uma sociedade que tem na família, que hoje ostenta diversos formatos, o seu símbolo maior.

Signo cultural que sobrevive às adversidades da vida, refletidas por rapazes e moças vestidos em farrapos e banguelas, que sinalizam a realidade do sertanejo.

As quadrilhas, nos idos da minha infância, eram encenadas em palhoças, a juventude transbordava em alegria, iniciava flertes e namoros, mas o ápice da festa é representado pelo casamento, em presença de caricaturas de atores sociais significativos.

Os folguedos devem ser incentivados com discrição e num clima de muita liberdade, para que o povo se manifeste de modo autônomo e exerça a crítica às injustiças e às adversidades sociais.

O folclore também forma as boas memórias do ser humano, que passam a habitar o inconsciente e movem o espírito de cooperação, a empatia e a solidariedade na fase adulta.

Por isso, a importância das cantigas, do reisado, do coco de roda, do pastoril, do bumba meu boi na educação da criança, pois carregam a esperança e os desejos subjacentes, contribuindo para o equilíbrio moral e social do grupo.

Em Alagoas, Guilherme dos Santos Neves e Théo Brandão são ícones da luta pela preservação dos folguedos populares que, como dito, transbordam o elemento festivo, têm marcante conteúdo antropológico.

O malhar o Judas, por exemplo, tem sentido profundo, que vai além dos gestos. Os participantes, inconscientemente, batem nos inimigos e desafetos, machucam o mau patrão, põem para fora sentimentos negativos, vingam-se.

Por fim, é preciso preservar a tradição oral, incentivando os mestres dos folguedos, que estão desaparecendo, sem esquecer que o folclore é dinâmico, necessita de um espaço de ampla liberdade para florescer.

É preciso ouvir o povo:

“Meu São José

Dai-me licença

Para o pastoril dançar

Viemos para adorar

Jesus nasceu para nos salvar”.

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